quarta-feira, agosto 09, 2006

Stranger on the Sofa














Ano de edição de um albúm de Barry Adamson, é, só por isso mesmo, um ano louvável para a indústria discográfica! Merece ser lembrado. Li algures um comentário de um fã quase tão exagerado como eu que dizia qualquer coisa como “é incrivel, o homem não consegue fazer nada de mau”, acrescento: Nem se aproxima.
Pois é, 2006 é já uma dessas assinaláveis datas. Temos “Stranger on the Sofa” para receber. É, de facto, um acontecimento.
Adamson, é, antes de mais, um personagem(!) atípico: ao mesmo tempo frágil e sensual, crooner-lambedor-de-feridas-profundas e homem ousado de atitude voluptuosa eminente.
É preciso ve-lo em palco para o entender melhor. É preciso também conhecer um pouco do seu trajecto:

Natural de Manchester (Moss Side) inicia em 1977 a sua carreira como baixista dos Magazines, colaborando paralelamente com os frenéticos Birthday Party de Nick Cave. Em 1983 torna-se num dos 4 membros fundadores dos Bad Seeds em ressaca pós-punk – com Nick Cave, Mick Harvey e Blixa Bargled (Einsturzende Neubaüten).
Mantém-se em exclusividade na banda (com a qual ainda colabora pontualmente) até 1987, quando decide dedicar-se em exclusivo a si e à sua mente: Divide-se entre a paixão pela música e o cinema, deprime-se, cura-se, e inicia a composição de bandas sonoras imaginárias, caminho que o levou a graduar-se em cinema na NYSFA (1991) – “só para ver melhor o som”, afirmou - e a encerrar o trajecto na colaboração entusiasmante com David Lynch para Lost Highway
.
Devagar, devagarinho perdeu a timidez e começou a cantar, alternando, como ainda faz, entre a voz ciciciada, o sussurro e a plenitude da sua voz grave, ampla e cheia. Muitas vezes é o xilofone que dita os melhores versos, algumas (deliciosas) vezes é o saxofone quem fica com as despesas dos refrões.
E multiplica-se e exponencia-se e divide-se. Alimenta especulações esquizotipicas sobre a sua esquizotipia e desdobra-se em 2/3/4/10, em tantos quantos lhe for possivel para que não caiam em saco roto as críticas de desequilibrio em cada album. De facto temos Miles Davis, temos Barry White; temos Lynch, Hitchcock e James Bond; temos Yello, temos Bad Seeds, temos Recoil e temos uma amálgama de influências que não consigo identificar. O que sobra desta implosão é quase sobrenatural.

Portanto temos Adamson o Rei da Montanha do Nada (2002), Temos Barry o Casanova Negro, temos Adamson o Demónio do Jazz e temos Barry, As Above, so Below (quanto a mim a obra prima musical e de revelação da busca constante de uma identidade – 1998).

Chegados então a 2006 encotramos o album qua agora ouço e vos mostro, que começa nos cantos recônditos da alma e salta para a quase alegoria pop inusitada na sua discografia. Que volta ao cinema e chega a PARARAPARARA (desculpem a interferência de “My Friend de Fly”, contagiante).
Continua ondulante, percussão para o estômago, percussão para os pés.
Tem de ser ouvido, deixo-vos o aperitivo. Há muito tempo que me apetecia escrever assim um texto tão livre. Ele permite-mo. Desinibe-me e conforta-me.


Fábio H.L. Martins, 8 de Agosto de 2006




Discografia:

The Man With The Golden Arm - 1988
Moss Side Story - 1989
The Taming Of The Shrewd - 1989
Delusion - 1991
Soul Murder - 1992
The Negro Inside Me - 1993
Oedipus Schmoedipus - 1996
As Above So Below - 1998
The Murky World Of Barry Adamson – 1999
The King of Nothing Hill – 2002
Stranger on the Sofa - 2006



Stranger on the Sofa:

01. Here In The Hole
02. The Long Way Back Again
03. Officer Bentley's Fairly Serious Dilemma
04. Who Killed Big Bird?
05. Theresa Green
06. The Sorrow And The Pity
07. My Friend The Fly
08. Inside Of Your Head
09. You Sold Your Dreams
10. Deja Morte
11. Dissemble
12. Free Love

4 comentários:

Maria P. disse...

Muito bem! Se a escrita neste blog é rainha, o bom gosto pela música é princípesco.

Um bom dia:)

sem-comentarios disse...

Eu desconhecia totalmente !

Mas gostei muitoo e já estou á procura ;)

Obrigada :)

Bj***

Fábio disse...

Maria p: Tão querida, de novo!
Beijinho

Sem Comentários: Que tal, encontraste? Gostaste?

ana disse...

Além de conhecer o belo "Stranger on the Sofa", agora já conheço o percurso do senhor Adamson, que bem descreveste.

Obrigado!