Lua da Tarde
"Ninguém olha a lua da tarde, e é exactamente naquele momento que ela teria maior necessidade do nosso interesse, dado que a sua existência não está ainda assegurada. É uma sombra esbranquiçada que desponta no azul intenso de um céu carregado de luz solar; quem nos garante que conseguirá, uma vez mais, tomar forma e ganhar brilho? É tão frágil e pálida e franzina;só um dos seus lados começa agora a conquistar um contorno, claro como um arco de foice o resto permanece ainda embebido de azul celeste. É como uma história transparente, ou como uma pastilha semi dissolvida; só que aqui o circulo branco não se está a dissolver, mas sim a concentrar-se, agregando-se à custa de manchas e sombras cinzento-azuladas, que não se percebe se pertencem à superfície lunar ou se são restos de baba do céu, que todavia impregnam o satélite, poroso como uma esponja."
A todas as luas da tarde.
"Ninguém olha a lua da tarde, e é exactamente naquele momento que ela teria maior necessidade do nosso interesse, dado que a sua existência não está ainda assegurada. É uma sombra esbranquiçada que desponta no azul intenso de um céu carregado de luz solar; quem nos garante que conseguirá, uma vez mais, tomar forma e ganhar brilho? É tão frágil e pálida e franzina;só um dos seus lados começa agora a conquistar um contorno, claro como um arco de foice o resto permanece ainda embebido de azul celeste. É como uma história transparente, ou como uma pastilha semi dissolvida; só que aqui o circulo branco não se está a dissolver, mas sim a concentrar-se, agregando-se à custa de manchas e sombras cinzento-azuladas, que não se percebe se pertencem à superfície lunar ou se são restos de baba do céu, que todavia impregnam o satélite, poroso como uma esponja."
de Italo Calvino, em "Palomar"
A todas as luas da tarde.
6 comentários:
E quem são as Luas da tarde?
:)
Engraçado teres colocado este pequeno trecho. Em parte porque tenho hesitado em postar um poemazito, presunçoso q.b., sobre a palidez da luz em pleno dia, no seu contraste com o sol. Acho que poderia ser uma bela metáfora sobre aquelas pessoas que, apesar do seu valor (e é inegável que cada pessoa tem o seu valor), passam despercebidas por não "brilharem" tanto quanto outras, por se remeteram às franjas dos acontecimentos, ao silêncio. Como a lua que, pela sua palidez diurna, não tem como marcar presença, dado que o sol reina sobre o dia e atrai todas as atenções. E o perigo da inveja - sentimento odioso contra o qual se tem que lutar - espreita, caso a lua não compreenda o papel que lhe pertence: a serenidade que lhe é intrínseca. De nada vale à lua querer ser como o sol. Persistir nisso é fazer da sua palidez serena um sentimento feio, uma presença à qual todos os olhares tenderão a fugir.
É impossível não nos fascinarmos pelo pequeno satélite...
a lua angustia-me. prefiro as estrelas num céu bem escuro.
a lua é como o amor...é efémero. as estrelas estão sempre, não mudam.
portanto, venham todas as luas da tarde. as que quase só se adivinham. as que ganham vida apenas na nossa imaginação.
A lua seja ela de tarde ou de noite, é bela !!
Quem não gosta de a observar ? :)**
MAria P: Pensei exactamente como o Cláudio o fez. Muitas conseguiria nomear mas seria um exercicio sem qualquer interesse (acho eu).
Claudio: percebeste a minha concordância? Venha de lá esse poema então
Spike: "pelo(s) pequeno(s) satélite(s). :)
Musalia: as luas e as estrelas são sempre a possibilidade dp brilho. E a renúncia em brilhar é um acto de beleza curioso. Todos, à sua maneira, são efémeros, mesmo que durem anos-luz, não achas?
Sem comentários: tem dias que não me apetece, que me magoam, devo achar-me anormal?
Angi: Não, não conheço. Aguardo-te. Deste-me vários tipos de óculos de sol durante estes anos. Vou podendo olhar o céu ás vezes.
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